30/05/2017

Reconciliação: urgência, testemunho e compromisso

Semana de Oração pela Unidade Cristã 2017

 

Originada no início do século XX, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) é uma das principais expressões de aproximação e diálogo entre as igrejas e comunidades cristãs, integrando o que comumente designamos por ecumenismo espiritual. Surge da sensibilidade frente a contradição da divisão entre os/as cristãos/ãs e do apelo por um testemunho comum da fé. Cientes de que, mais que uma disposição da vontade e dos esforços da comunidade eclesial, a unidade é, em primeira instância, dom da graça de Deus, a oração comum se associa à oração de Jesus que pede ao Pai que todos/as sejamos um (cf. Jo 17,21). Os dois períodos em que a semana acontece – de 18 a 25 de janeiro no Hemisfério Norte e, em geral, nos dias que antecede Pentecostes, no Hemisfério Sul – são extremamente significativos, pois traduzem momentos da vida da Igreja profundamente sensíveis à comunhão.

 

O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos (PPCPUC), organizadores da semana em nível internacional, convidam anualmente um país para contribuir na orientação e reflexão temática da Semana.  Em 2017, no contexto da comemoração dos 500 anos da Reforma, o Conselho de Igrejas na Alemanha convida a comunidade cristã a refletir e rezar a reconciliação. Inspirado em 2 Cor 5, 14-20, o tema da SOUC 2017 nos recorda da reconciliação única e definitiva dada em Cristo Jesus em favor de todos/as, sendo o amor do Filho de Deus quem nos move e impele a trilhar caminhos de encontro e reconciliação entre nós. Assim, um olhar reconciliado e reconciliador sobre o evento da Reforma do século XVI, mais do que ressaltar as diferenças e divergências entre as igrejas, é ocasião para recontar a história na perspectiva do encontro, do perdão, da cura da memória ferida e da opção em tornar cada vez mais visível a unidade que, em Cristo, desde sempre possuímos. Deus não nos vê, nem nos quer divididos/as, e nós oramos a Ele que, pela ação sempre criativa, renovadora e reformadora do Espírito, nos (co) mova a superar os muros da divisão que nos impedem de reconhecer o/a outro/a como irmão/ã.

 

Além dessa coerência com o fundamento de nossa fé – crer é querer a unidade – a oração comum enquanto apelo à reconciliação se apresenta como uma urgência, um testemunho e um compromisso para o mundo de hoje. Na conjuntura de sociedade, culturas e religiões que vivemos, a reconciliação é uma urgência enquanto resposta propositiva às tantas posturas de intolerância, fundamentalismos, posturas e discursos hegemônicos que colocam ideologias e pretensas verdades acima da vida e da dignidade do/a outro/a e da Casa Comum. É testemunho à medida em que constitui um sinal de esperança, um reduto de utopia diante do fatalismo e do descrédito com o presente e com o futuro da humanidade; é uma expressão da novidade redentora que o Divino continua tecendo na vida do povo, especialmente dos pequenos. É compromisso, pois a conformidade com a divisão esteriliza a fé e mata o espírito, e é incoerente crer e compactuar com a morte, em todas as suas formas; promover a unidade é imperativo da vocação batismal, vivida na missionariedade fecunda.

 

Orar pela unidade não anula, nem deve anular ou relativizar nossas diferenças, mas nos ajuda a relê-las sob uma outra ótica. Por motivos diversos, ao longo da história nossa forma de crer foi assumindo linguagens e contextos diferenciados, mas permanecemos unidos/as no essencial, no conteúdo da fé que professamos. Neste sentido, a reconciliação é também a conversão de nossas linguagens culturais, humanas, relacionais, assumindo a gramática do querer bem, do bem falar e da gratuidade do amor e do serviço que ultrapassa as estruturas de diálogo de nossas igrejas e necessita encontrar acolhida no bojo do cotidiano.

 

Ir. Raquel de Fátima Colet, FC

Movimento Ecumênico de Curitiba - MOVEC

 

Oração da SOUC 2016:

 

Bondoso e Amado Deus! Diante da diversidade que nos caracteriza te agradecemos pela vida e pela comunhão, pela oportunidade de orarmos como irmãos e irmãs.

 

Venha ao encontro da Tua criação. Que Tua graça nos abrace e a Tua bênção

nos coloque em completa comunhão.

 

A fé me Teu Amado Filho, nosso Salvador, Jesus Cristo, nos desafia e anima para seguirmos por caminhos que conduzam à reconciliação e à unidade. Que o seu amor possa nos estimular para a prática da justiça e da solidariedade. Que tudo aquilo que separava e separa teu povo seja substituído pelo encontro, pela escuta, pelo diálogo e pela partilha, essenciais para a paz e a esperança.

 

Que o Espírito Santo nos uma, ainda mais, na busca dos valores e princípios do Evangelho. Que os muros da indiferença, do egoísmo e da discriminação sejam derrubados e, em seu lugar, tenhamos experiências de unidade e amor.

 

Continue orientando e cuidando de cada pessoa. Que não nos fechemos para o passado. Que as dores e divisões de ontem nos auxiliem para a mudança de atitude. Olhar o passado à luz da Tua vontade por reconciliação é fundamental para que a paz, a reconciliação e o entendimento estejam

entre nós como virtudes.

 

Como embaixadores e embaixadoras do Teu amor, oramos a ti nosso Deus, na certeza de que Jesus Cristo e o Espírito Santo nos envolvem como Teus filhos e filhas. Amém!

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