09/11/2021
NATAL: na espera de Jesus, esperançar a vida! - MARCADOR LITÚRGICO ADVENTO/NATAL 2021
E se lhe perguntarem hoje: “o que você está esperando?”, o que você diria?
Final de ano chegando! Quando menos percebemos, já é Natal novamente! E lá vamos nós revisar os armários e almoxarifados na busca de enfeites, bolas coloridas e festões, pinheiros e presépios, ansiosos/as por pendurar o Papai Noel em algum lugar e comunicar que estamos em clima natalino. Sim, estamos... ou não! A overdose de apelos visuais por vezes tira nosso foco da essência da mensagem do Natal que não precisa nem de brilhos, pisca-piscas ou enfeites sofisticados. A pressa e necessidade de acompanhar o ritmo do mercado nos privar da experiência mais salutar que esse tempo nos possibilita: a pedagogia da espera!
Nós que amamos e respiramos educação, e que sabemos que aprendizagens e relações se fazem de processos e não de eventos, reconhecemos o tempo como um pedagogo precioso. Basta olhar para a rotina escolar que, um dia após ao outro, permite à criança descobrir num conjunto de traços marcados por suas mãos, um universo de possibilidades que ela passa a reconhecer como letras e palavras, e a conecta com um mundo novo. Basta olhar para nós mesmos/as, que nos vemos transformados/as cada dia pelas experiências de encontro com os/as estudantes, com suas famílias, com nossos/as colegas de trabalho. A vida nos afeta! Bem dizia Cora Coralina de que “todos estamos matriculados na escola da vida onde o mestre é o tempo”.
E, para pensar em tudo isso, existe um tempo litúrgico chamado Advento, quatro semanas que nos guiam na preparação para a celebração do Natal de Jesus. Um tempo pedagógico para que, olhando para Maria e José espera do Menino, meditamos também nas nossas esperas cotidianas; sem os romantismos exagerados e desnecessários das paternidades e maternidades reais e simbólicas que vivemos, mas na espera. A espera pelo reencontro com alguém que amamos; a espera recuperação da nossa saúde ou de uma pessoa querida; a espera pela cura de nossas dores interiores; a espera pela conclusão de um curso e o início de uma nova fase na vida acadêmica e profissional; a espera pela reconciliação dos inevitáveis conflitos que acompanham nossas relações; a espera pela convivência mais serena com a saudade que sentimos de alguém que partiu; a espera por um tempo de descanso do corpo e da mente; a espera que o/a filho/a cresça bem, que encontre seu caminho, que seja feliz; a espera pelo emprego que a crise nos levou; a espera pelo fim, enfim, da pandemia; a espera pelo fim de tantas outras pandemias que há tempos ferem a humanidade, a sociedade e o planeta; a espera por aquilo que ainda nem sabemos nominar, mas que esperamos!
E é aí que a espera se torna esperança, não só como substantivo, mas com a ousadia eficaz de verbo. A gente tem ouvido muito isso por aí - “esperançar!” – e pedimos licença aos linguistas mais tradicionais para validar essa mudança que fala à gramática da existência. Esperamos porque olhamos para o horizonte, e recusamos o discurso fatalista e tentador de que não tem mais volta, de que o mundo precisa de um reset ou que tudo é paliativo – embora o status quo do planeta seja uma narrativa potente e realista de que o presente-futuro não será tão tranquilo. Optamos pela esperança porque foi ela que, em primeiro lugar, optou por nós. E veio como dádiva do céu em forma de criança nascida entre nós e deitada nas palhas de uma manjedoura, aquecida pelo calor dos animais e ninada pelo olhar dos pastores e pelo cantar dos anjos. Optamos pela esperança porque ecoa em nós a convicção do Apóstolo Paulo de que “se Deus é por nós quem será contra nós?” (Rm 8,31). Na espera de Jesus, a gente esperança a vida.
Enquanto o Natal não chega, ou melhor, enquanto a gente não apressa o Natal, a gente espera Aquele que há de vir. Advento é tempo da saudável rebeldia de romper com a lógica de bater metas e alcançar resultados. A ciência biológica nos assegura que depois de uma gestação de nove meses, nascerá um novo ser vivo. Mas é a sabedoria e a mística que nos ajudarão a assumir as gestações da existência não somente em vista do que elas nos trarão, mas do que elas nos permitem ser e aprender. E elas podem durar um dia, dois meses, alguns anos... outras esperas são para sempre, e encontrarão sua resposta Naquele que nos espera desde sempre.
Se a gente pode dar um conselho mútuo é: vamos devagar! Jesus não quer nascer num click por download em banda larga, ladeado pelos flashes de nossas selfies e badulaques natalinos que exteriormente dizem “Feliz Natal!”, mas que não verdade ecoam a frágil opinião de que “´é só mais um natal”. Como afirmava a sábia raposa na história do Pequeno Príncipe: “a vida precisa de ritos”. Vivamos esse tempo no ritmo da agenda do coração. “Mas, a gente vai ficar atrasado... o comércio já está todo enfeitado... nossos enfeites estão velhos... todo mundo já está preparado”. A sabedoria popular atribuída às nossas mães diria “você não é todo mundo!” Se, como escola confessional, não assumirmos esse diferencial, pouca coisa nos resta!
Das memórias afetivas da infância, lá em casa, a gente enfeitava o pinheiro de Natal com papel dos doces ganhados durante o ano, que ainda conservavam os resquícios de açúcar e eram enrolados como borboleta; até a tinta do papel de bala ficava marcada nos dedos das mãos. Quem sabe seja tempo de recuperar essa mística de enfeitar nossas vidas e nossas árvores com as doçuras que vamos ganhando e recolhendo ao longo do ano, nos encontros e aprendizagens cotidianas. Sim! Vamos nos enfeitar e enfeitar tudo à nossa volta, mas porque, em primeiro lugar, estamos enfeitados/as por dentro, ornamentados/as pela espera e pela esperança. Educadores/as que somos, seremos felizes se nos educarmos para a espera e ajudarmos nossas crianças, adolescentes e jovens a também cultivá-la. O que estamos esperando?
Ir. Raquel de Fátima Colet, FC
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