11/03/2019

Do deserto ao jardim: intuições ecológicas para o itinerário quaresmal

 

A mensagem do Papa Francisco para a Quaresma desse ano orienta-se para uma contemplação penitencial da Criação. Ao situar o Mistério da Salvação como um “processo dinâmico que abrange também a história e a criação” (FRANCISCO, 2019), ele nos chama a atenção para duas imagens bastante expressivas e que podem servir de balizas pedagógicas para refletirmos esse tempo litúrgico: o deserto e o jardim. A expectativa da Criação pelo momento de se revelarem os filhos e filhas de Deus (cf. Rm 8,19) motiva-nos a empreender um itinerário pessoal e comunitário de passagem do deserto ao jardim, identificando em nossa vida cotidiana e na missão que realizamos como essas duas categorias se apresentam.

 

A referência ecológica nos remete, obviamente, a uma percepção ampliada, planetária, em sintonia com os urgentes apelos da Casa Comum, sobre a qual pesa o flagelo do pecado social que coisifica e mercantiliza os recursos naturais, a biodiversidade, as culturas originárias, as relações humanas. Contemplamos hoje a via crucis do Filho de Deus, ferido e crucificado nas dores do planeta. Nesse cenário, seríamos nós os algozes ou as testemunhas em potencial da ressurreição, que hoje toma a forma do cuidado, da preservação, de relações sustentáveis?

 

Da mesma forma, somos interpelados/as a refletir sobre o que a Laudato Si’ identifica como ecologia da vida cotidiana (LS 147-155), o que indaga nossa capacidade e disposição de atualizar nas convicções e práticas do dia a dia essa sensibilidade “macroecológica”. Já nos diz a Palavra de Deus que “quem é fiel no pouco é fiel no muito” (Lc 16,10). De nada nos vale um discurso crítico e com ampla argumentação, presente em nossos planos de ensino, expresso em dizeres e imagens nos ambientes que transitamos, se não estamos dispostos a aplica-lo aos nossos hábitos de vida e relações.

 

O exercício do exame de consciência, que na tradição cristã é um dos elementos constitutivos do caminho de conversão, dialoga com nossa percepção de pertença à Criação, que para nós é dom amoroso de Deus, casa/oikia generosa que acolhe e embala a vida, tarefa irrenunciável da humanidade.

 

(Texto completo no arquivo anexo)

Ir. Raquel de Fátima Colet, FC

 

 

 

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